Mesmo a vida sendo cheia de imprevistos, você deve pôr em prática a “mãe das realizações”: a PERSISTÊNCIA

"A corrida não é sempre para o mais rápido ... mas para aquele que continua correndo."

Todos querem o perfume das flores, mas poucos sujam as suas mãos para cultivá-las

domingo, 15 de agosto de 2010

ISSO ACONTECEU COM VOCÊ?

A SAGA DO CONCURSEIRO

Quase todas as histórias começam da seguinte forma: “ai meu Deus, que trabalho chato!!!”, “minha grana não dá para nada”, “vou continuar a minha vida na mesmice?”, “no domingo, a pessoa já fica angustiada ao começar a trabalhar”; “terminei a faculdade, mestrado, doutorado, mas ninguém me chama para trabalhar ou o salário é uma miséria”... enfim, variados são os motivos que levam as pessoas a se aventurar no sub-mundo dos concursos públicos.
A primeira atitude é se matricular num cursinho, muitas vezes pressionado (ou aquela suposta “força”) pelos amigos. O preço é salgado, mas, ai, tem aquele “empreendedor” que fala (GERALMENTE A RECEPCIONISTA BEM BONITINHA DO CURSINHO): - veja bem, esse valor que você vai investir será recuperado no seu primeiro salário e logo viu, pois a prova já vai ser próximo mês. O futuro candidato pensa: - até que ela tem razão....putz... daqui há poucos meses eu já vou estar ganhando mais do que aquele meu chefe chato!!!!! Vai ser bom demais!!!! E o principal disso tudo é que só vou precisar estudar um único mês..obaaaaaaa. Nesse momento, a pessoa não faz apenas uma matrícula com seus 12 cheques voadores, mas, sim, uma verdadeira “fezinha”.
Depois disso a pessoa vai par casa muito animada, passando, antes de chegar a casa, numa livraria dessas que tem de tudo, menos livros; nesse lugar ela compra seu material escolar (no caso dos homens, geralmente mais “seguros”, uma caderninho qualquer... não tendo a foto daqueles ursinhos ridículos.... e a caneta mais barata que tiver; no caso das mulheres, é bem mais complicado, pois elas investem num verdadeiro “arsenal” de material escolar, sendo suficiente para abastecer a rede de ensino infantil de sua cidade). Ao chegar a casa, seus pais e aquele tio chato perguntam logo o que houve com você, que fica logo com raiva, mas, como está bem empolgado, deixa por menos. Ao se deitar, à noite, começa a passar logo aquele filme que você sempre quis assistir, mas, nesse momento decisivo, um súbito momento de responsabilidade o impede, pelo nobre motivo de acordar cedo para o início da batalha no dia seguinte.
Na manhã seguinte, o nosso juvenil batalhador, meio cansado, pois passara toda a madrugada acordando de ansiedade por causa da expectativa do dia seguinte, mal toma o seu café da manhã e já segue no rumo do curso. Chegando lá, ele se depara com uma sala que parece mais parece um mar de cadeiras brancas, chegando até a afetar a sua visão por alguns instantes. Uma decisão muito importante nesse momento é a escolha do lugar ideal (no caso dos homens é fazer a difícil, ou melhor, impossível previsão do local que uma mulher escolheria para sentar, pois ele pensa assim: posso unir o útil ao agradável!!!; já no caso das meninas, é bem diferente: no caso das cdf’s, o lugar ideal é bem em frente, ou seja, na zona bem fértil as sala, por causa da eficiente irrigação proporcionada pelos jatos constantes de cuspe do professor, já no caso daquelas não tão empolgadas, a maior preocupação é o terrível frio da sala, que é combatido com a eficiente ajuda daquela jaqueta encostada no armário que ela comprou quando foi á Disney, nos seus quinze anos e só usa de vez em quando vai á serra no fim de semana. Esse momento que antecede á aula é bem tenso; pessoas ficam olhando fixamente para a frente como se tivesse uma alma a sua frente, outras ficam mexendo no celular (na maioria dos casos), mas o pior tipo de pessoa e foi essa que, justamente, abordou logo o nosso amigo recém-concurseiro, é aquela que fica puxando assunto, dizendo, logo no primeiro dia de aula, que estuda mais de 10 horas por dia e que já está estudando há mais de 5 anos para m concurso. Nesse momento, o nosso personagem fica comparando a versão agradável da recepcionista com a qual ele fez a sua “fezinha” com aquela fornecida pelo colega terrorista, que, pela necessidade quase fisiológica de conversar, se estende até o momento da chegada do professor.
Iniciada a aula, o professor passa cerca de 50 minutos escrevendo no quadro uma série de livros para você adquirir, mas, como um bom estrategista e se avaliando como alguém muito sábio e pragmático, pensa: olha.....não sou nem um otário para comprar esse tanto de material; vou comprar aquelas apostilas que vendem em banca de revista..... elas já tem tudo mesmo... Quando, finalmente, chega o tão esperado momento do início da aula, você fica com os olhos arregalados, parecendo um daqueles personagens de desenho animado. Apesar do emocionante e contagiante entusiasmo do nosso amigo, ele, ao ouvir o conteúdo da aula, pensa estar num daqueles países do oriente médio, pois não consegue entender absolutamente nada do que o professor fala (alínea............. que desenho é aquele na lousa???? O professor chamou isso de parágrafo “§”). Mas o principal de tudo é aquele monstro que estava perto, mais parecendo um tijolo, um livro de bruxaria, ou melhor, uma bíblia medieval, algum dicionário latim-grego-português????.... nada disso meus amigos, tratava-se, simplesmente, daquele que viria a ser o principal companheiro dele: o quase inseparável Vade Mecum. O assustado personagem se impressiona com a rapidez que o seu colega de sala ao lado manuseia tal “instrumento”, assemelhando-se à habilidade de um cowboy com o seu revólver. É nesse momento que ele tem o seguinte pensamento: vou comprar esse “troço” amanhã mesmo (observem que ele nem sabe pronunciar o nome do livro, mas, mesmo assim, quer ter um, mesmo que não sirva para estudar, mas, pelo menos, vai poder causar uma boa impressão em casa e com os amigos).
Já na aula seguinte, nosso parceiro, já de posse do seu “tijolão”, com a imponência de um juiz federal, chega ao curso. Não tinha estudado no dia anterior, pois passara o dia quase todo tentando entender o que estava escrito naquele universo de páginas que, no momento, a maior utilidade era causar uma boa impressão daqueles que o viam portando o seu novo armamento. Iniciada a aula, ele já se sente mais inserido no grupo, mas ainda não arrisca nenhuma pergunta ou comentário em sala ao observar a quietude de seus colegas diante da exposição. Assim, começa a pensar: “caramba, se todo mundo está calado, é porque todos devem estar entendendo tudo viu....caramba......estou arruinado”. E é com esse “construtivo” pensamento que o personagem encara os seus 6 primeiros meses de maratona concurseira.
Outro importante momento da vida de quem entra na maratona estafante é aquele em que se conflitam os interesses dos estudos com aqueles que eram da sua “vida anterior”. Nosso amigo, depois de uma semana produtiva, encontra, na saída do cursinho, aquele cara que era seu parceiro das baladas, que, ao ver o herói, o convida para uma festinha. Propagandas não faltam: fulana, cicrana vão estar lá; usa ainda o velho argumento: “olha, ela perguntou por você viu....disse que tava sumido...ela está com saudades”. Nosso concurseiro fica balançado, deixando até o sei vade mecum cair. Mas, depois de muita insistência do baladeiro, cede às tentações. Chega o esperado dia, nosso personagem não lembra mais das velhas táticas baladeiras nas quais, até bem pouco tempo atrás, era craque. Na festa, ele se assusta; aquele não seria, há muito tempo, seu habitat, mas, mesmo assim, ele não desanima. Chega ao bar, pede uma bebida. Uma garota o olhava discretamente. Esse fato, tempos atrás, seria já o suficiente para ser dado o bote fatal, mas esperem..... sua cabeça entra em pânico. Aconteceria o mais temido por ele: os assuntos baladeiros não mais davam a graça na sua mente, surgindo, então, um momento de desespero que, logo, é solucionado. Ao realizar a abordagem, diz: “tudo bem?”, a menina, de forma bem simpática, responde: “tudo bem, e você?”. Nessa ocasião, surge mais um constrangimento. O galã, seis meses destreinado, fica mais uma vez sem saber o que dizer, mas, mesmo assim, pergunta: “você já leu a súmula 343 do STF?”. A garota, assustada, olha para o galã, com cara tacho, e fica sem saber o que responder, saindo de fininho logo em seguida. É assim meus caros amigos, nessa noite, nosso herói não teve muito sucesso. Ao chegar a casa, cabisbaixo, ele lembra que terá aula no dia seguinte e, mesmo um pouco embriagado, começa a estudar, embora essa sua nobre decisão se concretize por apenas 20 minutos.
São 6 da manhã. O despertador toca de forma desesperada. Na cabeça do boêmio de uma noite só parece que tem o peso de 10 vade mecum iguais ao seu. Mesmo assim, ele se dirige ao curso. Chegando lá, observa logo um cartaz que informa a divulgação de um edital. Ele se empolga logo e, no mesmo dia, realiza logo a sua inscrição. São dois meses de profunda dedicação. Desliga o seu celular, falta algumas aulas para estudar em casa, gasta o que tem e o que não tem com os chamados “aulões” de véspera (aqueles que prometem ensinar todo o edital para você em apenas uma tarde).
Chega o dia da prova. 14 horas ela começa. Ele tenta ler todas as leis antes de sair de casa. Não consegue ler nada. Acessa a internet para ver a concorrência. 300 pessoas para uma vaga. Ele pensa: “minha nossa!!! É muita gente. Mas ele pensa naquela frase que os professores dos “aulões“ de véspera adoram dizer: “você só precisa de apenas uma vaga”, “só depende de você”. Chegando ao local de aplicação, vê logo aquela imensidão de pessoas fora de prédio, mas apesar dessa confusão, aparece logo aquela pessoa que ele menos queria encontrar: aquele colega terrorista do cursinho, que começa a realizar inúmeros comentários motivadores; diz: “ e ai????? Estudou muito?”, “sabia que a maioria dos nossos colegas disseram que estudaram mais de 12 horas por dia?”, “sabia que eu vi na internet que, para passar nessa prova, a pessoa tem que fazer, no mínimo, 95% da prova?”. Depois dessa significativa injeção de ânimo, sob o som do senhor que vendia canetas, chocolate, água e a insubstituível caneta preta, ele, educadamente, se despede do terrorista e chega à sala. Nesse local, recebe um saquinho plástico para guardar os seus pertences. Muitas pessoas já se encontravam sentadas num clima que mais parecia um campo de concentração judeu. Uma garota portava simplesmente duas garrafas de água e duas caixas e chocolate. Outro tinha sobre a sua mesa 8 canetas bic. Iniciada a prova, começa uma sessão de sinais da cruz. Teve uma rapaz que mais parecia um motor de se benzer. A fiscal de prova diz a frase mais inútil para quem está se submetendo a uma prova: “olá pessoal, me nome é fulana, se precisarem de qualquer coisa, podem me chamar”. Ahhhh...quase esqueci, ela diz uma inda mais inútil, que é a seguinte: “pessoal, fiquem calmos e boa prova”. Ao abrir seu caderno, que mais parecia estar escrito em chinês, ele lembra da velha dica: começar pelas questões mais fáceis. Mas o concurseiro começa a pensar o seguinte: se a pessoa que inventou isso tivesse aqui no meu lugar, jamais falaria isso!”. E, mesmo sem saber quase nenhuma questão, marca algumas. Como a prova era do CESPE, ele lembra de outra dica do “aulão” de véspera: nunca chute uma questão; marque apenas a que você tem certeza. Mas, mesmo assim, ele tem o mesmo pensamento de inutilidade da dica, pois não tinha nenhuma certeza do que estava marcando. Ao marcar as questões no gabarito, somente as que ele sabia, a imagem do seu cartão de resposta mais parecia uma cartela de bingo dos mais azarados dos homens (quase sem marcar nada).
Antes de terminar de conferir o gabarito, já tinha absoluta certeza de que essa não seria a sua vez. No cursinho, a pergunta mais recorrente era a seguinte: “a ai...fez quantas?”. Ao dizer o seu resultado, as pessoas diziam a frase mais repugnante, mas que, posteriormente, iria fazer todo o sentido: “não se preocupe meu amigo, concurso é uma fila”.

Se, ao ler esse texto, você não se identificar com nada, provavelmente, nunca tenha prestado um concurso público. Se, no entanto, se conseguiu visualizar em determinada situação descrita, é porque você faz parte da família de mais de 5 milhões de pessoas que lutam pelo acesso a uma vaga no serviço público. Pessoas que são discriminadas, confundidas com desocupados, com pessoas que não gostam de trabalhar. Pelo contrário, essas pessoas merecem o total respeito e admiração, pois renegam os prazeres momentâneos da vida, numa intensa maratona de estudos, para promover a melhoria dos serviços prestados pelo Estado, que, por muitos anos, deixou de dar a atenção merecida, acarretando o sucateamento da máquina pública. Se você se encontrar no mesmo estágio em que esse texto termina, não desanime, pois, nos últimos 8 anos, houve quase um milhão de nomeações. Essa não é uma luta fácil, mas, se houver persistência, logo o sucesso virá. Lembre-se: “o sacrifício é passageiro, mas a derrota é para sempre”.

Um comentário: